O DKW - VEMAG - MANUATENÇÃO E REPARAÇÃO - FRANCISCO R. LANDI
Se o livro da Lambreta era a bíblia das motonetas, o livro "O DKW-Vemag", do mesmo mestre Francisco "Chico" Landi, era o Velho Testamento dos carros de dois tempos no Brasil. É outro item sagrado, que formou uma geração de mecânicos e ajudou a manter rodando uma das frotas mais icônicas do nosso país.
Aqui na oficina, quando aparece um DKW (o que é raro hoje em dia), a gente sempre lembra dos ensinamentos que livros como esse nos deram.
A chancela de um Campeão
Assim como no livro da Lambretta, a assinatura de Chico Landi na capa era um selo de ouro. Estamos falando de um piloto de Fórmula 1, um herói nacional, explicando os segredos do carro que era a paixão do brasileiro nos anos 50 e 60.
O DKW, produzido pela Vemag no Brasil, era um carro completamente diferente de tudo que existia. Não tinha válvulas, não tinha cárter de óleo, fazia um barulho único e soltava uma fumacinha azulada. Para muitos mecânicos acostumados com motores de 4 tempos (como o do Fusca), o DKW era um bicho de sete cabeças. O livro de Chico Landi veio para ser o tradutor, o manual que desmistificava essa tecnologia alemã.
Desvendando o Motor de "3 cilindros e 6 pistões"
O livro era um manual de serviço completo, feito para o mecânico de bancada e para o proprietário curioso. Ele mergulhava fundo nas particularidades do DKW-Vemag, cobrindo toda a linha: o sedã Belcar, a perua Vemaguet e o jipinho Caiçara/Candango.
Os pontos altos do livro eram:
O Motor Dois Tempos Dissecado: Chico Landi explicava, de forma clara e direta, o funcionamento do motor de três cilindros e sua famosa teoria dos "seis pistões" (três de combustão, três de pré-compressão no cárter). Ele detalhava como a lubrificação era feita pela mistura de óleo na gasolina, a importância da proporção correta e os riscos de usar pouco óleo.
Sistema de Roda Livre (Freilauf): Uma das maiores "esquisitices" do DKW. O livro explicava a função da roda livre, um dispositivo no câmbio que permitia que o carro andasse em "banguela" mesmo com a marcha engatada, para economizar combustível e proteger o motor. Também ensinava a diagnosticar e reparar o sistema.
Componentes Críticos: Havia capítulos inteiros dedicados a peças que eram o terror de quem não as conhecia:
Sistema de Ignição: O DKW usava um sistema complexo com três platinados e três bobinas (um para cada cilindro). O livro ensinava o passo a passo para regular o ponto de ignição de cada cilindro, um serviço que exigia precisão de relojoeiro.
Carburador: Dicas para a regulagem dos carburadores Brosol ou Solex, cruciais para o bom funcionamento e para evitar o superaquecimento de um dos cilindros.
Sistema de Arrefecimento: Explicação do sistema "termossifão", que não usava bomba d'água nos modelos mais antigos, e a importância de manter o radiador limpo.
Guia de Diagnóstico: Assim como no livro da Lambreta, a seção de "diagnóstico de defeitos" era ouro puro. "Motor superaquecendo? Pode ser ponto atrasado ou mistura pobre. Motor falhando um cilindro? Verifique a bobina, o platinado e a vela daquele cilindro."
A Importância na História da Mecânica Nacional
Em uma época sem internet e com pouca literatura técnica disponível em português, o livro "O DKW-Vemag" foi fundamental. Ele padronizou o conhecimento e salvou milhares de motores de serem destruídos por mecânicos bem-intencionados, mas mal-informados.
O DKW era um carro robusto, mas sensível à manutenção incorreta. Um ponto de ignição errado ou uma mistura pobre de combustível podiam furar um pistão em minutos. O livro de Chico Landi foi o grande responsável por ensinar a "receita" correta para cuidar desses carros, garantindo a sua longevidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário